LIVE 8 - O RESCALDO


Foi lamentável e absolutamente vergonhosa a cobertura do LIVE 8 levada a cabo pela televisão do estado. Custa-me conter a frustração e a indignação pela forma como o canal público destruiu o maior evento musical alguma vez realizado. Desconheço os responsáveis pelo péssimo serviço público que a RTP prestou aos portugueses, mas de uma coisa estou certo, as culpas, em caso algum, devem ser atribuídas aos apresentadores Pedro Ribeiro e Margarida Pinto Correia. Fizeram muito bem aquilo que lhes pediram para fazer. Basta entender um pouco de televisão (não muito, um pouco basta!) para se perceber que a culpa deste enorme fiasco é toda de quem dirigiu a emissão. Alguém devia ter dito a esse senhor que a grande atracção do Live 8 eram os concertos. Nós, espectadores e fãs de música, queríamos ver as actuações das bandas e dos artistas. Não o que se passava ou o que se dizia dentro daquele estúdio. Por muito interessantes que fossem algumas das conversas que por ali iam acontecendo (Olá Álvaro Costa! Hello Nuno Galopim!).
Em vez de privilegiar a música, a emissão especial que a RTP preparou para o Live 8 afogou-se num mar de inutilidades e fait-divers disparatados que só prejudicaram a cobertura do evento. Perdi a conta ao número de actuações que foram interrompidas por conversas de estúdio ou pelas reportagens inúteis e completamente despropositadas que foram surgindo em cena. Devido a estas patetices, perdeu-se o início da actuação dos Coldplay e dos Duran Duran (o “Sunrise” nem se viu! Apesar do som não ser o melhor, podem vê-la aqui:
http://www.lizardkingduran.com/TVvideos/LIVE8.wmv). Quanto aos Travis, foram subitamente interrompidos para dar entrada a uma reportagem em directo do Estádio do Restelo, para falar com fãs dos Queen (!!!). Mas, isto cabe na cabeça de alguém?... Dos Audioslave viram-se apenas os primeiros 30 segundos de “Like A Stone”. Naquele momento, era mais importante mostrar o estúdio da Antena 1...Também a arrepiante actuação de Annie Lennox ficou a meio, desta feita devido a compromissos publicitários. Mas, o desastre não se ficou por aqui. Alguém viu em “directo” (leia-se “diferido”, pois na realidade foi isso que aconteceu!) as actuações de Elton John ou dos Kaiser Cheifs? Pois…nem eu!
Infelizmente, a RTP (ou alguém muito autista dentro da estação) não soube respeitar um evento com a dimensão do Live 8. Não soube respeitar quem nele participou. E, pior ainda, o canal público não soube respeitar os seus espectadores que, só por acaso, são os mesmos que o sustentam. Que vergonha!
Ao final da tarde, depois da magnifica actuação de Madonna, e já farto de tanta trapalhada, acabei por desistir de ver aquilo. Peguei na mãe-Astronauta e no meu pequeno-Astronauta e fui dar uma volta, pois o dia até convidava a sair de casa. Afinal, para quê continuar em frente à televisão à espera de algo que nada nem ninguém me garantiria que acabaria por ver? Prefiro esperar para ver em DVD. Espero é que este não demore 20 anos a ser editado…

Quanto à música propriamente dita, daquilo que vi, o meu destaque vai para Madonna (uma exemplar performance pop! As Britneys deste mundo ainda precisam de penar muito para chegar ao nível da Diva!), U2, Duran Duran (apesar de prejudicados pela péssima realização da TV Italiana…Porca miséria!), Stereophonics, Placebo e os avôzinhos Pink Floyd.
Agora, só nos resta a esperança de que tudo o que se passou hoje tenha, de alguma forma, comovido (se é que esta gente ainda se comove...) os líderes dos países mais ricos do mundo. Eles que coloquem a mão na consciência e percebam, de uma vez por todas, que não há necessidade de, em pleno séc. XXI, tantas pessoas viverem numa pobreza extrema. Não se pode continuar a ignorar a morte de 30 mil crianças por dia. Uns não podem continuar a viver com tanto e outros tão pouco. Enquanto os ricos desperdiçam comida, os pobres anseiam por ela. Não há nada que justifique este tipo de desigualdades. Para bem de todos nós, temos de deixar de continuar a olhar para o nosso umbigo. Há quem tenha problemas bem maiores que os nossos. Há quem tenha uma vida bem mais difícil que a nossa. Há quem, ao fim de um dia, não tenha uma migalha de pão para comer ou para alimentar os seus filhos. Iniciativas como o Live 8 não resolvem os problemas do mundo, mas ajudam a despertar consciências. E isso é mais importante do que muitos julgam. A esperança de todos nós é que este evento tenha também abalado com a consciência dos senhores que têm o poder de mudar este planeta e a vida de milhões de pessoas. A bola agora está do lado deles. O mundo aguarda uma resposta.